Nascemos e não sabemos para onde vamos. Eis o grande lance
da natureza: nos tirar todo o significado das coisas. Desespero para os ocidentais que, ao
posicionarem-se do lado esquerdo do mundo, esqueceram onde deixaram os olhos,
os ouvidos... o corpo.
Os europeus acabaram optando não se sabe quando e como,
pela cegueira, aquela que Cristo, ao cuspir nas palmas das mãos e leva-las aos olhos do cego, traria de volta o Reino dos Céus. Dostoiévski descreveu essa
tentativa cristã através do sonho de um homem ridículo. Este sonhou que foi
parar num mundo distante onde a “praga humana” não existia, acabando por
contaminar esses seres extraordinários, tornando-os comuns. Inveja, ciúmes,
daqui a pouco o mundo inteiro começou a ter medo, medo, medo. O homem contra o
homem, luxúria, dor... desespero.
Voltando a Terra, surge o Livro Sagrado em
algum momento de nossa história, pregando o Pecado Original. Todos nascemos com o processo de Kafka nas
costas e assim passamos nossas vidas.
Culpados. É muito difícil atingir o Reino de Deus, ou seja, voltar à infância,
aos prazeres sem o compromisso da dureza e o convívio com a maldade do mundo.
Nossa educação nos ensinou que a vida é dura e petrificamos nossa musculatura resultado de nossa particular forma de pensar
o coletivo. Nossa imaginação é fruto de
um roteiro baseado em valores, na sua maioria terríveis, transpostos pelas caras
e tons de voz dos adultos, educados e “bem “ resolvidos. Fomos educados para
ter medo.
Na escola, já sentamos sobre
carteiras frias e duras, basta lembrarmos dos bons invernos que passamos
naquela sala de aula, com aquela professora saída de algum filme de terror.
Primeira e última lição: A vida é dura e
fria. E a consciência precisa de uma polícia do cérebro, para nos lembrar para
sempre disso. Dostoiévski sofria com isso, Kafka convivia com isso, Nietzsche
enlouqueceu provavelmente com isso e Freud desmaiava com isso, o chamando de
superego. Sartre foi mais longe dizendo que não tinha complexo de Édipo e nem superego.
Em sua última entrevista em 1980, afirmou nunca ter sentido angústia. Para o
deleite dos psicanalistas, o escorregão de Sartre tornou-se clássico em uma de suas respostas sobre a miséria:
“Enfim, eu a
conhecia por meio dos outros. Eu a via, se quiser. Mas a angústia e o desespero
não. Enfim, mudemos de assunto, porque isso não
se relaciona com nossa pesquisa.”
Vemos aí, o homem com seus fantasmas, incapaz de escondê-los de si mesmo. Pois o
corpo não consegue mentir. A busca por
significados é o murro em ponta de faca que os ocidentais insistem em dar. A
ordenação da realidade e toda a matemática, surgiu para dar a impressão de
segurança. Leucipo e Demócrito falaram sobre o átomo. Os físicos modernos o “descobriram”,
mas de diferentes formas. Dalton acreditava no átomo como uma bola de bilhar,
Para Thomson , o átomo tinha a forma de um pudim contendo os elétrons
representando as passas, Bohr representou-o rodeado de elétrons, formando
órbitas em torno do núcleo, mas a maioria dos estudantes nunca se perguntaram,
ou se perguntam sobre a realidade deste pequeno ser. O que é o átomo em si? A
objetividade científica, através dos modelo de Newton e Descartes, que
reforçaram a forma de ver o mundo através da lupa da ciência, desprezando as
outras, tornou-se oficial e a única em matéria de “verdade”.
A psicologia
ocidental entrou de cabeça nesse modelo e se perdeu em linhas e mais linhas
dando um grande nó nos desesperados em busca de explicação. O problema do átomo,
o modelo em si da ciência é puramente
humano, mas os estudantes afirmam que as
coisas são feitas de átomos. Dizem que é divisível. Se podemos dividir o átomo,
este o será infinitamente. Como saber o que realmente um átomo significa, se é
eternamente divisível? O Universo é
infinito, logo, ele não tem significado. Somos formados de quê? As pulsões de
Freud viriam de onde? E para onde vão? Onde começa e termina o Universo, essa
escuridão que nos abraça, mas não revela seus segredos? Mas porque eu tenho que saber a resposta ? A
resposta de uma coisa que não tem significado? A vida é isso. E para nossa
segurança, que é na terra e não em outro lugar, devemos parar de tentar olhar
para o que nada significa e olhar para os lados, para os que nos rodeiam e
significam alguma coisa. Isso basta.
“ No momento
em que você fala para a spessoas o que as coisas significam, elas passam a não
significar mais nada” (Stanley
Kubrick).
Alexandre Morillas Marques.
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