segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Para ler e refletir...

Cultura – A Marcha social: NÃO INTERESSA PARA ONDE VAMOS.
Nascemos e não sabemos para onde vamos. Eis o grande lance da natureza: nos tirar todo o significado das coisas.  Desespero para os ocidentais que, ao posicionarem-se do lado esquerdo do mundo, esqueceram onde deixaram os olhos, os ouvidos... o corpo.
Os europeus acabaram optando não se sabe quando e como, pela cegueira, aquela que Cristo, ao cuspir nas palmas das mãos e leva-las  aos olhos do cego, traria de volta  o Reino dos Céus. Dostoiévski descreveu essa tentativa cristã através do sonho de um homem ridículo. Este sonhou que foi parar num mundo distante onde a “praga humana” não existia, acabando por contaminar esses seres extraordinários, tornando-os comuns. Inveja, ciúmes, daqui a pouco o mundo inteiro começou a ter medo, medo, medo. O homem contra o homem, luxúria, dor... desespero.
Voltando a Terra, surge o Livro Sagrado em algum momento de nossa história, pregando o Pecado Original.  Todos nascemos com o processo de Kafka nas costas e assim passamos  nossas vidas. Culpados. É muito difícil atingir o Reino de Deus, ou seja, voltar à infância, aos prazeres sem o compromisso da dureza e o convívio com a maldade do mundo. Nossa educação nos ensinou que a vida é dura e petrificamos nossa musculatura  resultado de nossa particular forma de pensar o coletivo. Nossa imaginação é  fruto de um roteiro baseado em valores, na sua maioria terríveis, transpostos pelas caras e tons de voz dos adultos, educados e “bem “ resolvidos. Fomos educados para ter medo.  
Na escola, já sentamos sobre carteiras frias e duras, basta lembrarmos dos bons invernos que passamos naquela sala de aula, com aquela professora saída de algum filme de terror. Primeira  e última lição: A vida é dura e fria. E a consciência precisa de uma polícia do cérebro, para nos lembrar para sempre disso. Dostoiévski sofria com isso, Kafka convivia com isso, Nietzsche enlouqueceu provavelmente com isso e Freud desmaiava com isso, o chamando de superego. Sartre foi mais longe dizendo que não tinha complexo de Édipo e nem superego. Em sua última entrevista em 1980, afirmou nunca ter sentido angústia. Para o deleite dos psicanalistas, o escorregão de Sartre  tornou-se clássico  em uma de suas respostas sobre a miséria:
“Enfim, eu a conhecia por meio dos outros. Eu a via, se quiser. Mas a angústia e o desespero não. Enfim, mudemos de assunto, porque isso não se relaciona com nossa pesquisa.”
Vemos aí, o homem com seus fantasmas,  incapaz de escondê-los de si mesmo. Pois o corpo não consegue  mentir. A busca por significados é o murro em ponta de faca que os ocidentais insistem em dar. A ordenação da realidade e toda a matemática, surgiu para dar a impressão de segurança. Leucipo e Demócrito falaram sobre o átomo. Os físicos modernos o “descobriram”, mas de diferentes formas. Dalton acreditava no átomo como uma bola de bilhar, Para Thomson , o átomo tinha a forma de um pudim contendo os elétrons representando as passas, Bohr representou-o rodeado de elétrons, formando órbitas em torno do núcleo, mas a maioria dos estudantes nunca se perguntaram, ou se perguntam sobre a realidade deste pequeno ser. O que é o átomo em si? A objetividade científica, através dos modelo de Newton e Descartes, que reforçaram a forma de ver o mundo através da lupa da ciência, desprezando as outras, tornou-se oficial e a única em matéria de “verdade”.
A psicologia ocidental entrou de cabeça nesse modelo e se perdeu em linhas e mais linhas dando um grande nó nos desesperados em busca de explicação. O problema do átomo, o modelo em si da ciência  é puramente humano, mas os estudantes afirmam que  as coisas são feitas de átomos. Dizem que é divisível. Se podemos dividir o átomo, este o será infinitamente. Como saber o que realmente um átomo significa, se é eternamente divisível?  O Universo é infinito, logo, ele não tem significado. Somos formados de quê? As pulsões de Freud viriam de onde? E para onde vão?  Onde começa e termina o Universo, essa escuridão que nos abraça, mas não revela seus segredos?  Mas porque eu tenho que saber a resposta ? A resposta de uma coisa que não tem significado? A vida é isso. E para nossa segurança, que é na terra e não em outro lugar, devemos parar de tentar olhar para o que nada significa e olhar para os lados, para os que nos rodeiam e significam alguma coisa. Isso basta.
No momento em que você fala para a spessoas o que as coisas significam, elas passam a não significar mais nada” (Stanley Kubrick).

Alexandre Morillas Marques.

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