quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Jogos Perigosos

O  imaginário é repleto de informações configuradas por nossas idiossincrasias. O medo, aprendizado primário que,  quando afastado da mãe imprime-se como uma tatuagem em nossa memória e não sai nunca mais. Os primeiros contatos fora do lar são marcantes para o resto da vida o que ajuda a moldar  nosso caráter (jeitão da pessoa). 

Na adolescência descobrimos que o mundo pode ser um parque de diversões,  a mudança para a vida adulta, adotar posições, gostos musicais, aliás, a música é diretamente  ligada a alma, pois a meu ver é a arte que mais se expressa, enfim.  Freud disse que as primeiras relações amorosas não são as que o adolescente vive, mas a que a criança do adolescente revive. Plagiou Dostoiévski, principalmente a obra Nietochka Niezvanova, onde o amor intenso de uma menina pelo padrasto, leva-a a planejar a relação, torná-la oficial para depois  da morte da mãe. Esse amor impossível acaba, no desenrolar do drama da protagonista, sendo transferido para Kátia, uma menina da mesma idade, e uma relação homoerótica inconsciente entre as meninas que se beijam muito, torna-se inevitável.

Com a obra inacabada, interrompida com a prisão do escritor em 1849, este não teve oportunidade de desenvolver as personagens e a trama, mas acabou por revelar o que Sófocles já havia percebido quando escreveu a peça Édipo Rei. O drama dos jogos de amor despertam a criança indefesa, desprotegida do calor humano, calor materno no caso dos homens. Nas mulheres, a ligação com o pai é inversa. Enquanto os meninos vão se desligando da mãe, as meninas, ao se aproximarem da vida adulta, intensificam  a necessidade da  presença  do pai; o contato com a figura masculina nas meninas começa cedo, amadurecem antes dos meninos. Talvez por questões biológicas, o organismo prepara-se para a procriação.

Mas saindo do campo das especulações teóricas e partindo para as observações, o desenrolar da adolescência é o que nos deixa com uma herança : a insegurança. Não sabemos de onde vem essa coisa que nos perturba. O medo de relacionar-se com alguém, o medo de se machucar das mulheres é o medo de reviver o desamparo infantil, segundo Freud. Mas a busca desse desamparo infantil nunca será encontrado em terapia nenhuma, pois não podemos nos lembrar de como ocorreu o rompimento, se é que ocorreu. Logo, são as sensações que ocupam  o plano principal dessa questão.

Os jogos nas relações amorosas, um tipo de teste para ver até aonde a pessoa amada aguenta, geralmente é iniciado inconscientemente por parte do “torturador(a)”; o medo a liberdade, a independência, torna-se insuportável. Mas a dependência também  é  a  do  agressor(a) que não pode viver sem sua “vítima”.   Uma pergunta que Wilhelm Reich se fez era: “Como pode um homem (Hitler) comandar cinco mil , desenhando com seus corpos numa praça, a suástica?” Sem exército para depender, não seria ninguém.

Vemos aí que a dependência é uma característica humana. O homem, por ser um animal frágil, não possuir garras ou chifres, acabou por desenvolver a consciência, provavelmente devido a essa falta de defesa contra o mundo externo e também ganhando corpo juntando-se em bandos para se fortalecer gerando  aí os clãs e daí surgindo as famílias, tribos... sociedade.

A sedução, uma das, senão a principal, arma das mulheres,  é uma forma de garantir que o escolhido não deixe os limites de seu território. As mulheres são as que mais apresentam queixa do desamparo, mas são as mais ferinas quando a condição é desamparar os homens.  A beleza feminina assemelha-se as ações na bolsa. Quanto mais valorizadas, mais em alta estão. E, nas alturas (vide o Zarathustra de Nietzsche), quando nega o contato com o homem,  este,dependendo de sua estrutura emocional e moral, acaba por cometer as piores atrocidades, permitidas séculos antes como lavagem da honra.

As mulheres em sua maioria querem ser a única.  Wilhel Stekel disse: “ As mulheres não toleram que outra mulher lhes roube o objeto amoroso. Mesmo que elas não o queiram, embora não percam nada com isso, consideram esta rivalidade como uma derrota. As mulheres chegam a ter ciúmes de maridos que não significam mais nada para elas.” O perigo nesses jogos é a negação do desamparo sentido, camuflado por valores sociais onde o medo é ridicularizado.

A briga pela conquista da superioridade faz disso o embrião de todas as guerras e  desentendimentos. Quando uma das partes revida e dá o troco, e a outra parte antes agressora e agora ofendida, se não tiver seus apelos atendidos, negado os seus pedidos de perdão, e sofrendo as consequências, volta a sua antiga posição arrumando outra pessoa e a expondo em público diante de todos, vingando-se.

Mas justificando-se com cara de dó para não reconhecer o prazer da dor alheia.  Mais uma vez Stekel: “A compaixão representa a forma sublimada do prazer. É uma compenetração com o ser que sofre. O que compadece se identifica com o objeto compadecido e sente suas dores como próprias. Detrás da dor da compaixão se oculta o prazer da malignidade.”  E para finalizar, nas palavras de Gaiarsa: “ Foi sem querer ou, não tive a intensão.” Quando você se ver colaco(a) num jogo, conselho: Tire o Rei do tabuleiro e deixa a outra parte jogando sozinha.  Pule fora.

Alexandre Morillas Marques
www.espacoterapiaeducacao.com.br

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