A MULHER
NO TANTRA
* Por Virginia Gaia Visibelli
Ao olharmos para o tema da
sexualidade feminina nos últimos anos, não há duvidas de que evoluímos muito.
Desde os primeiros movimentos feministas e da criação da pílula anticoncepcional
até os dias atuais, muita coisa mudou. E mudou para melhor. Mas mesmo com toda essa
abertura, ainda estamos bem longe do culto à feminilidade que pautou boa parte
dos cultos pagãos da Antiguidade. E, nesse contexto, está a origem do Tantra.
Os primeiros registros
históricos sobre as práticas que compõem o Tantra datam de cerca de 3 mil a.C. A partir do conjunto de escrituras
denominadas “Tantras”, encontradas na região que circunda a Cordilheira do
Himalaya, desenvolveu-se todo um sistema de crenças que pregava que o caminho
para a iluminação se dava pela experimentação de estados alterados de
consciência. Nessa época, uma sociedade de características matriarcais venerava
a fertilidade da natureza e reverenciava os mistérios femininos.
No Tantra, a mulher é a
representação da Shakti, o princípio feminino do universo que dá vida ao seu
oposto complementar masculino, representado por diferentes deidades, dentre
eles o deus Shiva. Segundo as escrituras tântricas “Shiva sem Shakti é Shava”,
sendo que a palavra “Shava,” em sânscrito (o idioma original dos Tantras),
significa “cadáver”.
A Shakti representa a força
inexplicável da natureza que dá vida e, ao mesmo tempo, com seus ciclos, suscita
um ar de mistério e também - por que não? – sedução. No Tantra, ao invés da
repressão da sexualidade feminina como se observa em muitas religiões
monoteístas, a mulher é estimulada ao autoconhecimento e à investigação de seu
próprio corpo. Para os tântricos, a expansão
da consciência depende do despertar da Kundalini, a energia vital tântrica,
sendo que o feminino é o veículo para elevar essa carga energética a níveis
mais elevados. O despertar da Kundalini desenvolverá uma maior capacidade de
amar, no mais amplo sentido da palavra “Amor”.
No Tantra, a mulher encontra um
caminho para explorar sua própria sexualidade, de forma saudável e sem tabus.
Aliás, dentro da filosofia tântrica, a quebra de tabus – pessoais e sociais - é
considerada uma das bases para se adentrar nos misteriosos domínios da
polaridade feminina do universo. Assim, a mulher tântrica é convidada a seduzir
e experimentar diferentes formas de prazer, como meio para ampliar sua
autoconsciência.
Nesse sentido, o Tantra encontra
no atual contexto histórico uma grande oportunidade de resgate em sua essência,
na medida em que a mulher ganha um novo papel na sociedade moderna. Embora
ainda exista muito desconhecimento e muitas distorções sobre o real significado
do Tantra para a sexualidade, uma coisa é certa: o sexo tântrico passa,
necessariamente, pela exaltação e total respeito à feminilidade.
A Shakti é a iniciadora tântrica de sua
contraparte masculina e isso acontece, inclusive, no nível individual, já que
todos os indivíduos possuem as polaridades do masculino e do feminino dentro de
si. Mesmo para o homem que queira explorar as práticas tântricas, cabe a ele a
adoção de uma postura de aceitação e exaltação à sexualidade feminina.
E, assim, o Tantra convida a
mulher moderna a buscar autoconhecimento. Para isso, dispõe de uma base
filosófica bastante flexível, além de práticas meditativas, rituais e,
sobretudo, corporais, o que inclui algumas técnicas para serem utilizadas
durante o ato sexual. Além de ampliarem a experiência de prazer, tais técnicas
visam, acima de qualquer coisa, a expansão da consciência. Isso porque, em
última instância, a mulher tântrica é consciente da necessidade de uma
sexualidade livre de amarras para que se tenha uma vida mais prazerosa e com
mais amor.
*Virginia Gaia
Visibelli é astróloga e estudiosa de mitologia e religião comparada há mais de
15 anos, tendo estudado e praticado diferentes vertentes do Tantra. Foi
iniciada no Vajrayana - o chamado Budismo Tântrico ou Budismo Tibetano - além
de ter sido integrante de grupos fechados e Ordens Iniciáticas dedicados ao
estudo das técnicas tântricas no ocidente.